5 elementos essenciais para escrever uma boa história
- Jamile Castro Félix

- 30 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
O que toda boa história tem em comum, afinal?

Algumas histórias parecem nascer prontas: você começa a ler e, antes de perceber, já está completamente envolvido.
Outras, mesmo com boas ideias, não conseguem prender o leitor — algo se perde no caminho, não é?
A diferença, muitas vezes, está nos fundamentos que sustentam a narrativa.
O que isso quer dizer?
É que escrever bem não é somente ter inspiração; é saber conduzir essa inspiração com consciência. Pode parecer complicado, mas são como degraus de uma longa escadaria.
Um por um, mesmo que devagar, o caminho percorrido te levará a algum lugar.
Toda vez que abrimos um livro, buscamos algo que nos ultrapassa: uma emoção, uma verdade escondida, talvez até um pedaço de nós mesmos refletido em um personagem.
A boa notícia é que escrever não depende somente de inspiração súbita. Há fundamentos — ainda que silenciosos, que sustentam uma narrativa e a tornam inesquecível.
São escolhas que o escritor faz, às vezes sem perceber, mas que moldam a experiência de quem lê.
Para ajudar você nesse processo, separei cinco elementos que considero essenciais.
Não são fórmulas rígidas, quero lembrar. No entanto, são pontos de apoio que podem guiar sua escrita e torná-la mais poderosa, cativante e realmente boa.

1. Escreva com o final em mente.
O final é o destino da sua história, isso já deve saber.
Você não precisa conhecer cada detalhe da jornada, mas ter uma ideia de onde deseja chegar faz toda a diferença.
Pergunte-se: que sensação quero deixar no leitor ao virar a última página?
Talvez seja esperança, talvez seja melancolia, talvez seja um choque inesperado.
Essa emoção funciona como uma bússola. Assim, mesmo que você explore caminhos diferentes ao longo da narrativa, terá sempre um norte que mantém a trama coesa.
O seu leitor pode não prever o final, mas algo ele espera. E como uma semente, isso foi plantado por você — escritor, durante a história.
Pense em O Senhor dos Anéis. Desde o início, a jornada de Frodo tinha um objetivo claro — destruir o anel. O que mudava eram os obstáculos no caminho, mas a história nunca perdeu de vista o destino final.
O que importa, então? Histórias que permanecem conosco: quase sempre, lembramos do impacto do fim. É ele quem dá sentido ao que veio antes.

2. Deixe tudo mais difícil para o seu protagonista.
Histórias sem conflito são histórias sem vida. Tenha isso em mente.
Um leitor não irá doar o tempo dele em um livro de 400 páginas onde o escritor o enrola numa trama vazia — e aqui vou gentilmente chamar de encheção de linguiça.
O leitor quer acompanhar personagens que enfrentam obstáculos reais, crescentes, quase impossíveis.
Quanto mais difícil a situação, mais significativa será a vitória (ou a derrota).
Isso não significa criar obstáculos gratuitos, mas sim desafios coerentes com a trama. A cada capítulo, pergunte-se: como posso tornar as coisas mais complicadas?
Crie conflitos verdadeiros capazes de agitar a história.
Logo, se o protagonista precisa encontrar um objeto, não o coloque imediatamente à vista. Talvez ele precise se aliar a alguém em quem não confia, ou pagar um preço emocional alto para conseguir chegar até ele.
Quanto maior for a dificuldade, maior também a catarse. É no limite que o herói se revela ou se perde.
3. Evite coincidências que enfraquecem a trama.
Poucas coisas irritam mais um leitor do que soluções fáceis demais.
Coincidências que resolvem problemas tiram o peso da narrativa.
É o famoso “deus ex machina”: o personagem estava prestes a morrer, mas, por acaso, alguém surge para salvá-lo sem nenhuma explicação convincente.
Acho que todos estamos meio cansados disso. Bem, eu meio estou. E você?
Claro, exites a boa coincidência. É aquela que complica ainda mais as coisas.
Ela deve aumentar a tensão, não a dissolver.
Então, se o herói encontra, por acaso, a chave que abre todas as portas — isso é chato e negativo para a história.
Maaas, se o herói perde a chave justamente quando mais precisa dela, e agora ele precisa improvisar uma solução — isso cria enredo e foge do comum.
Uma boa coincidência aumenta a tensão; uma má coincidência diminui a emoção.
4. Defina os objetivos do protagonista desde o início.
Sem objetivo, não há história.
O protagonista precisa ter um desejo ou uma meta clara.
Esse desejo pode ser grandioso — salvar o mundo — ou íntimo — conquistar o amor de alguém, encontrar um lugar para chamar de lar.
O importante é que o leitor entenda desde cedo o que está em jogo. Quando o objetivo é claro, cada obstáculo ganha peso, e cada decisão do personagem se torna significativa.
Um exemplo claro é o de Orgulho e Preconceito. O objetivo de Elizabeth Bennet não é salvar um reino, mas encontrar um equilíbrio entre seus princípios e o casamento em uma sociedade que a pressiona.
Mesmo sendo íntimo, esse desejo sustenta todo o enredo.
Pergunte-se: se meu personagem tivesse somente um desejo a realizar, qual seria? Essa resposta pode ser o coração de sua história.

5. Fique apenas com as cenas que importam.
Escrever é também cortar. Saber onde cabe uma cena e onde não cabe.
Uma boa história não se sustenta em excesso, mas em escolhas conscientes. Cada cena precisa ter um propósito: ou movimenta a trama, ou revela algo importante sobre os personagens.
Se uma cena não faz nenhuma dessas coisas, ela pesa a narrativa e pode afastar o leitor.
Por isso, ao revisar, pergunte-se: se eu retirar esta cena, algo importante se perde?
Se a resposta for não, ela provavelmente não deveria estar lá.
Uma boa revisão não é acrescentar, mas descobrir o que precisa ser retirado para a essência brilhar.

Esses cinco elementos funcionam como pilares para qualquer narrativa.
Eles não limitam a sua criatividade, mas a direcionam, ajudando você a escrever de forma mais intencional.
Escrever uma boa história é sempre um equilíbrio entre inspiração e técnica. Inspiração é o que acende a primeira faísca; técnica é o que mantém o fogo aceso até o fim.
E você, já sabe qual desses elementos precisa fortalecer na sua própria escrita?
Talvez seja o momento de olhar para sua história com outros olhos e começar a fazer escolhas que a tornem inesquecível.











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